terça-feira, 22 de março de 2016

Na panela tem...#2



Fala, minha gente. Tudo bem com vocês?

PRECISO ME DESCULPAR!!! SINTO MUITO POR NÃO TER POSTADO NA ÚLTIMA SEMANA!!!

Estou em vias de dar início às atividades de provas na faculdade em que dou aula / estou fazendo um mol (=6,02x1023, lembra?) de trabalhos para o meu curso de História! (Gente, ser professor e aluno é uma loucura!). Assim, peço um milhão de perdões, por favor. Não deixem de conferir o nosso blog, tá? Foi só uma exceção, prometo que não ocorrerá de novo!

Bom, como prometido, vamos à análise do livro lindo do sociólogo Carlos ALberto Dória?

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DÓRIA, Carlos Alberto. Formação da Culinária Brasileira: escritos sobre a cozinha inzoneira. São Paulo: Três Estrelas, 2014.

Pessoal, este livro é simplesmente maravilhoso! Quem me acompanha no instagram (fernando_viana) viu que eu o engoli em poucos dias! Fiz questão de avaliá-lo com 5 frigideirinhas, porque o livre é bom demais da conta!

Antes de falarmos da obra, vamos ao autor. Carlos Alberto Dória é doutor em sociologia pela Unicamp (2007) e pós-doutor (2008-2011) pela mesma instituição. O currículo dele é lindo, mas maravilhoso mesmo é o arsenal de obras voltadas à alimentação. A escrita deste autor é simplesmente linda e provocativa! Eu o acompanho pelo blog E-Boca Livre - este que tem reflexões ótimas e que, em 2015, foram compiladas em formato de livro. Vale muito a pena! Se você quer saber um pouco sobre outros livros dele, também maravilhosos, clique aqui.

Vamos à obra!

"Formação da Culinária Brasileira" é, sem a menor sombra de dúvidas, um super serviço aos estudos sobre a alimentação brasileira. Num intenso diálogo com Gilberto Freyre e Luís da Câmara Cascudo (com algumas concordâncias e discordâncias, com algum diálogo mais intenso e com alguma tensão mais marcante com outro), Dória faz em sua obra um verdadeiro revisionismo daquilo que se cristalizou sobre a alimentação brasileira.

Em 279 páginas, a obra - de leitura fluida e extremamente prazerosa - é constantemente provocadora. Dividida em sete capítulos (além de apresentação e elementos finais do texto), o sociólogo trincha a cozinha mais elegante que os nobres dos séculos XVII-XVIII, certamente! 

O primeiro capítulo, "Formação da Culinária Brasileira", é o mais denso e intenso do livro. É neste capítulo que o autor reforça e quebra conceitos ao longo de todas as páginas. Ao meu ver, inclusive, é o que vale toda a obra. Apesar das últimas páginas se tratarem, ao meu ver, de uma projeção futurologista dos rumos da gastronomia brasileira, o resto é essencial para nos localizarmos em nosso consumo alimentar contemporâneo. É neste capítulo que ele conceituará cozinha inzoneira, elemento essencial para entendermos a sua perspectiva nessa obra.Segundo o autor, 

o adjetivo sugere o que é manhoso, enredador, além de enganador. Desse modo, pareceu-me apropriado para indicar o que fala ao paladar de maneira envolvente, esperta, porém cheia de aspectos claros e escuros. Algo nessa cozinha nos é absolutamente familiar, sensível, mas difícil de definir. É justamente em meio a essa dificuldade que faço meu caminho, tentando conduzir o leitor a uma compreensão melhor de nossa culinária, sem deixar de reconhecer, entretanto, as lacunas e enormes ciladas que há no percurso. (p. 12).

Linda essa fala, não é? Ao ler este capítulo, vamos permeando um pouco a noção de cozinha brasileira, essa que nos parece muito familiar, mas que é repleta de nuances desconhecidas a nós. Leiam tomando café e comendo biscoitos de avó! Isso fará diferença no proveito da leitura.

É neste capítulo, também, que vale a pena conhecermos um pouco de Casa-Grande e Senzala, de Gilberto Freyre, e História da Alimentação no Brasil, de Câmara Cascudo. Quem ainda não os conhece, entrem no Google acadêmico e busque resenhas dessas obras. Vale a pena!

No capítulo dois, "Entre secos e molhados", o autor convoca uma discussão fantástica sobre os alimentos secos e os molhados, e os que se inscrevem neste percurso - uma mistura de seco e molhado. Destaque à mandioca e ao milho, essenciais para entendermos um pouco da cozinha indígena tradicional brasileira e sua mistura às comidas caldosas portuguesas.

"A emergência dos sabores regionais" é uma verdadeira quebra de paradigmas, colocando em xeque as noções "senso-comum" que temos da alimentação brasileira. TODOS os professores de Gastronomia deveriam ler isso! É um soco em nosso estômago.

O trecho "Feijão como país, região e lar" trata do consumo do feijão ao longo de nossa história. É aqui, inclusive, que o autor dá o último golpe no mito (se é que ele ainda está de pé) de que a feijoada é um prato de origem africana - executado pelos escravizados africanos aqui no Brasil. Caso ainda reste alguma dúvida, acessem este artigo do prof. Dr. Henrique Carneiro e mate o mito da feijoada.

Em "Legitimidade e legibilidade à mesa", o autor põe uma discussão muito interessante: até quando o uso de produtos considerados típicos compõem uma cozinha considerada tradicional? Esses conceitos, inclusive, nos instrumentalizam para discussões como as da semana retrasada: que cozinha é essa que queremos quando convocamos um resgate à cozinha tradicional? Debate filosófico e estético, importante para ampliarmos os nossos debates sobre a cozinha feita nos brasis.

"O estilo feminino de cozinhar" convoca uma discussão acerca do feminino na cozinha. Perpassa a relação entre a cozinha caseira como fazer feminino e a cozinha profissional como masculino. Expondo a visão de Escoffier, questiona essas condições estáticas, convocando mulheres que são chefes, mas que ainda são minoria. (sugiro a leitura dessa entrevista com Roberta Sudbrack e dessa com várias chefes).

Por fim, "Propostas para uma renovação culinária brasileira" faz uma reflexão do que estamos, convoca-nos a pensar para onde queremos ir, nos questiona enquanto gastrônomos! Essencial para debates sobre cozinha, este trecho nos chama à realidade para pensarmos: o que queremos de nós mesmos enquanto cozinheiros? Vale demais a reflexão!


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Pessoal, por hoje é isso!

Reforço o pedido de desculpas, prometo que colocarei todas as leituras em dia para que isso não volte a acontecer!

Na próxima semana nós continuaremos com o projeto o "Na panela tem...", com a análise de Gastronomia no Brasil e no Mundo. Quem me acompanha pelo Instagram viu que eu já tive algumas questões com o livro, mas falaremos mais a fundo na próxima semana!

Ah, quarta-feira, amanhã, 23/03, é meu aniversário! Podem deixar recadinhos de parabéns! rs.

Muito obrigado pelo carinho e atenção de vocês. Nos vemos na próxima semana!

Tchau tchau!!



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