
Fala, minha gente! Tudo bem com vocês?
Pois é, missão dada (por mim mesmo) é missão cumprida (por
mim mesmo também)!
Sejam bem-vindxs ao segundo texto do nosso blog.
Como firmei compromisso na primeira postagem e na descrição
deste blog, começaremos hoje as discussões que envolvem gastronomia e pesquisa!
Sim! Para isso, então, quero convidá-los a dividir comigo esses apontamentos introdutórios
que comporão a postagem.
Antes de iniciarmos, porém, vale ressaltarmos que os textos
que darão base a esta discussão são a entrevista com o historiador Jacques Revel, autor do capítulo intitulado “Os usos da Civilidade”, na obra
“História da Vida Privada 3”, de P. Ariés e G. Dubby, além do artigo “A História da Alimentação:balizas historiográficas”,
dos professores Ulpiano Bezerra de Menezes e Henrique Carneiro.
De antemão, é necessário
destacarmos dois aspectos fundamentais:
- A alimentação só
galga espaço como objeto sistematizado pelas ciências com a Antropologia do
século XIX. Antes disso, a alimentação se limitava a tratados culinários e
médicos (teremos uma postagem sobre isso em breve). Logo, pensar a alimentação
a partir de uma perspectiva sistematizada é um movimento extremamente recente;
- O enfoque dado às
discussões apresentadas contará com material produzido por pesquisadores de
várias áreas, mas será direcionado por um pesquisador da História. Assim, caso
alguns termos fiquem técnicos demais ou difíceis de compreender, deixem nos
comentários, darei um jeito de tornar mais palatável assim que possível. Vale ressaltarmos que não se trata de um texto com rigor acadêmico, mas de um espaço de fomento à curiosidade. Caso queira se aprofundar no assunto, os link estão disponíveis acima.
Já de início, vale ressaltarmos que as estacas que delimitam
o espaço de produção intelectual nessa área se confinam num espaço delimitado.
Logo, França, Itália, Alemanha, Espanha e Áustria são os países pioneiros na
produção intelectual ligada à alimentação. Passaremos pelo Brasil também, mas é
necessário não perdermos de vista que a produção nessa área ainda é pouca aqui
em nosso país.
Apesar da sistematização das produções na área serem recentes,
a história é repleta de representações que referenciam a alimentação desde a
antiguidade, e são produzidas a partir de seus vários enfoques. Menezes e
Carneiro (p. 3) distinguirão, portanto, esses enfoques em cinco grandes
subcategorias: o biológico, o econômico, o social, o cultural e o filosófico.
A partir dessa segmentação, a alimentação é percebida em
suas várias nuances. A alimentação a partir do enfoque biológico tem sua
ligação fortemente marcada com os estudos médicos, já que é desde a Antiguidade
que as dietas alimentares compõem parte importante no tratamento de doenças,
além dos conhecimentos produzidos em botânica e zoologia e propiciadora à
emergência da nutrição no século XIX. O enfoque econômico nos deixa claro a
importância dos alimentos nos ciclos econômicos ao longo da história:
especiarias, cana-de-açúcar, café, tabaco, farinha. A noção de cultura
material, inclusive, é o que convoca a história a dar importância à alimentação
no século XX. O enfoque social, por sua vez, tema principal da expressão deste
blog, situa-se na própria formação das sociedades, uma vez que estas têm em
comum a língua e a alimentação. Apesar de estar na base da formação social, a alimentação
ganha suas expressões como objeto da História, de fato, a partir da década de
1970. Ao lado do social, o enfoque cultural busca compreender a alimentação
(técnicas de cocção, ingredientes, dieta etc.) como expressão além da
nutricional. Dito de outra forma, busca-se compreender os meandros ligados aos
fazeres alimentares, não à ingestão do alimento em si; busca-se perceber os
códigos alimentares. Por fim, a questão filosófica se desmembra em ética
(escolhas alimentares, por exemplo) e estéticas (de foro íntimo às questões
culturais e sociais).
Essas percepções apontadas pelos historiadores brasileiros
são importantíssimas para entendermos parte do atual percurso do trabalho com a
história da alimentação. Mas isso só é possível hoje porque o século XX
presenteou a História com discussões que extrapolavam as biografias sobre as
grandes personalidades do passado e os ciclos econômicos.
Visando ampliar o debate historiográfico no século XX,
fundou-se na França a revista intitulada Annales.
As publicações da revista eram extremamente revolucionárias para a as época, quando
a história começa a ampliar suas nuances de reflexão, revendo seus próprios
conceitos (o que é História? como fazer História?) e ampliando seus objetos de
análise. Em franco diálogo com a Antropologia, a História se permitiu novas
abordagens e novos métodos. Foi sob a direção de Fernand Braudel, porém, que
alimentação conseguiu entrar, de fato, para várias publicações na revista. E
foi sob a direção de Jacques Revel que a alimentação ganhou seu status de
objeto de expressão da cultura material social. Isso representou um marco!
Apesar disso, no Brasil a
alimentação como objeto traçou um rumo bem peculiar. Fomos, inclusive,
desbravadores de abordagens étnicas com Luís da Câmara Cascudo! Querem saber
mais sobre isso? Tema da próxima postagem!
Por hoje é isso. Gostaram? Comentem!
Aproveito o ensejo para convidá-lxs a lerem o meu texto que será
publicado no próximo domingo de carnaval (dia 07/02) no jornal A Tribuna.
Reforçando a compreensão de gastronomia como manifestação cultural e prática
histórica, trouxe à tona um tema que gostei muito de refletir: a história da gourmetização. Pois é, as preferências
alimentares figuram ao longo da história (farei um post sobre isso em breve)
e são aferíveis a partir de uma série de documentos – cito dois em meu artigo.
Leiam e façam a crítica aqui nos comentários.
Outra coisa muito bacana para o crescimento das pesquisas em
gastronomia: a Revista Ágora, publicada pelo Departamento de História e Geografia da
Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), abriu nova chamada de artigos. Com o
dossiê intitulado “Gastronomia: saberes e fazeres”, a revista dá visibilidade
ao campo de estudos em questão aqui neste blog, além de fomentar as produções
na área. Com uma temática ampla, e por se tratar de uma revista do departamento
de História da universidade, as apostas estão circundando os artigos que
consigam contemplar os fazeres tradicionais gastronômicos. Os artigos serão
aceitos para emissão de parecer até o dia 31 de março. Se você quiser conhecer
alguns dos fazeres gastronômicos registrados como patrimônio imaterial
brasileiro (vai que rola uma inspiração, né?), acesse o link dos dossiês de
registros do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
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